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A árvore milenar

 Existe na SP 330, no município de Santa Rita do Passa Quatro - SP, o Parque Estadual de Vassununga. Nele está abrigado um Jequitibá-rosa (Cariniana legalis), com idade estimada de 3.000 anos.
Para os mais sensíveis, descobri-lo e estar próximo a ele chega a ser uma experiência mística. Impossível não sentir o coração emocionado e a mente girando ante o esforço de imaginar tudo que esse Jequitibá já presenciou nesta incrível jornada de séculos e milênios. Herói, sobrevivente de uma colonização desmatadora e devastadora, de ciclos e ciclos de culturas agrícolas, de incêndios florestais...
 Impossível não reverenciá-lo. Um respeito quase filial aliado a um sentimento de profunda admiração somam-se à súbita noção da efemeridade de uma existência humana.
Impossível não sentir a dimensão sagrada que há neste incrível ser vivo de 3.000 anos.
Existe lá uma visitação pública bem expressiva, o que tem levado aos técnicos responsáveis pela manutenção do parque um receio muito grande quanto à continuidade dessa existência milenar do Jequitibá-rosa. De fato, é possível verificar nele sinais perturbadores dessa visitação, como por exemplo, pedações de seu majestoso tronco feridos porque alguém quis levar pra casa uma lembrança sua, retirando um pedaço da casca. Existe também um intenso pisoteio ao seu redor, o que expõe suas raízes ao perigo da compactação do solo.
 Será que a noção do "sagrado" que há nessa árvore chega a alcançar muitos dos corações e mentes que o visitam? Será que essa forte ligação com o passado que ele nos traz é percebida ou sentida pela maioria, mesmo que de modo fugaz?
Se a resposta for sim, talvez seja possível acreditar que o ser humano ainda não esteja totalmente escravo da frieza e da insensibilidade que lhe parecem ser tão característicos neste início de século XXI. Creio que as raízes de todo o mal que há na terra estão fincadas nestes dois tipos de sentimentos, que paradoxalmente poderiam ser descritos como "ausência de sentimentos".
Talvez fosse possível modificar hábitos e atitudes profundamente enraizados em nosso cotidiano através do resgate dessa sensibilidade latente, que precisa de alguma forma aflorar e tornar mais emocionante nossa relação com nossos irmãos da Natureza e também com nossos irmãos de espécie.
Se o "emocionar-se" diante de uma árvore é possível para grande parte de nós homens e mulheres deste terceiro milênio, então pode-se sonhar com dias melhores, onde se pensará muitas vezes antes de se sacrificar uma árvore de rua por futilidades como a quebra de uma calçada de cimento, por sujar as ruas com suas lindas e coloridas flores e folhas, esconder fachadas comerciais, ou por quaisquer outros motivos que nosso vão egoísmo pode produzir.
O respeito para com a árvore da rua será então, apenas um dos sinais de uma mudança maior, de valores e atitudes, de respeito e reverência pela vida em si.


Fotos: panoramio, trilhasdesaopaulo.sp.gov.br
Texto: Dissertação de mestrado Ilza Monico. Link para baixar: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11142/tde-08072005-155525/pt-br.php

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