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quarta-feira

Folha seca não é lixo!

"Um tapete de folhas dá vida ao solo e abrigo à fauna"

A luxuriante hileia, a floresta tropical úmida da Amazônia, floresce há milhões de anos sobre solos que estão entre os mais pobres do mundo. Esse fato intrigava muitos estudiosos. O grande cientista alemão, explorador da Amazônia, Alexander Von Humboldt, ainda pensava que a floresta, tão viçosa, alta e densa, era indicação de solo muito fértil. Como pode haver tanta vegetação, crescendo tão intensivamente, sobre solo praticamente desprovido de nutrientes? O segredo é a reciclagem perfeita. Nada se perde, tudo é reaproveitado.
A folha morta cai ao chão, é desmanchada por toda sorte de pequenos organismos, principalmente insetos, colêmbolos, centopeias, ácaros e moluscos, e depois é mineralizada por fungos e bactérias. As raízes capilares das grandes árvores chegam a sair do solo e penetrar na camada de folhas mortas para reabsorver os nutrientes minerais liberados. Poucas semanas depois de caídos, os nutrientes estão de volta ao topo, ajudando a fazer novas folhas, flores, frutos e sementes. A floresta natural não necessita de adubação. Dessa forma ela consegue manter-se por séculos, milênios e milhões de anos. A situação não é diferente em nossos bosques subtropicais, nos campos, pastos ou banhados. A vida se mantém pela reciclagem. Assim deveríamos manter a situação em nossos jardins.
Um dos maiores desastres da atualidade, que está na base de muitos outros, é o fato de a maioria das pessoas estar, mesmo as que se dizem cultas e instruídas, totalmente desvinculadas espiritualmente da Natureza, alienadas do mundo vivo. As pessoas nascem e se criam entre massas de concreto, caminham ou rodam sobre asfalto, as aventuras que experimentam lhe são proporcionadas pela televisão. Já não sabem o que é sentir orvalho no pé descalço, admirar de perto a maravilhosa estrutura de uma espiga de capim, observar intensamente o trabalho incrível de uma aranha tecendo sua teia. Capim, aliás, só bem tosadinho no gramado, de preferência quimicamente adubado! Se não estiver tosado, é feio! Na casa, o desinsetizador mata até as simpáticas lagartixas, os gecos. 
A situação não é melhor nas universidades. No departamento de biologia de uma importante universidade de Porto Alegre, encontra-se um pátio com meia dúzia de árvores raquíticas. Alí o solo é mantido sempre bem varrido, nu, completamente nu! As folhas secas são varridas e levadas ao lixo. A varrição não distingue sequer entre carteira de cigarro, plástico e folha seca, para eles tudo é lixo. Já protestei várias vezes. Os professores e biólogos nem tomam conhecimento. Pudera! Hoje muitos dos que se dizem biólogos mais merecem o nome de necrólogos, pois gostam mais de lidar com vida por eles matada do que dialogar com seres e sistemas vivos. Preferem animais em vidros com álcool ou formol, plantas comprimidas em herbários. São hoje raros os verdadeiros naturalistas, gente com reverência e amor pela Natureza, que com ela mantêm contato e interação intensiva.
Atrás do prédio em que estava a área florestal da Riocell, onde estou instalado com meus escritórios da Tecnologia Convivial e da Vida Produtos Biológicos, existe um barranco onde se desenvolvem lindas "seringueiras". Na realidade, não são seringueiras, são plantas da mesma família de nossas figueiras, mas são oriundas da Índia. Além de crescerem pelo menos dez vezes mais rápido que nossas figueiras, fazem belas raízes aéreas e tramas superficiais no solo. A alienação que predomina entre nós, em geral, faz com que tais árvores sejam demolidas tão logo atinjam tamanho interessante e aspecto realmente belo. Os fícus elásticos, que me refiro, criaram um lindo tapete de folhas secas. Esse tapete segura a umidade do solo, mantém o solo poroso e aberto para a penetração da água da chuva e evita a erosão, especialmente na parte mais íngreme do barranco, já bastante erodida, porque no passado as folhas ali eram sempre removidas. Esse tapete promove também o desenvolvimento da vegetação arbustiva e rasteira, que dá ainda mais vida ao solo e abrigo à fauna, como corruíras e tico-ticos, lagartixas e insetos. Da janela do meu escritório, alegro-me cada vez que posso observar essa beleza.
Houve quem insistisse para que varrêssemos, deixando o solo nu. Faço um apelo a todos que ainda não o fizeram: observem esse aspecto importante e construtivo da Natureza, aprendam a ver a beleza na grande integração do Mundo Vivo. Não vamos varrer!

Fonte: Lutzenberger, José. Boletim A Garça (1990), da empresa então conhecida como Riocell. A varreção das folhas dos fícus elásticos a que Lutzenberger se refere neste texto foi suspensa, mas em anos posteriores, a maior parte das próprias árvores foi eliminada.

terça-feira

Dando valor às folhas que caem.

Nas mãos do artista espanhol Lorenzo Durán, as folhas podem ganhar contornos bem distintos daqueles que herdaram da natureza.
Usando uma técnica oriental, bastante disseminada na China e no Japão, que permite fazer recortes em folhas de papel, Durán resolveu picotar folhas secas de várias árvores da região onde mora, na cidade espanhola da Guadalajara.
Com o nome Naturayarte, o projeto de Durán também envolve sua família.
"Há quem use a madeira, escultores que talham as pedras e outros que usam as folhas como meio de expressão artística, coisa que me parece nova e apaixonante", diz.
Antes de picotar as folhas, Durán faz os desenhos em um molde de papel. Ele conta, em seu site, que desenvolveu a técnica sozinho.
Durán diz acreditar, no entanto, que o formato natural das folhas e outros elementos da natureza também têm seu quê de arte.
"Creio que cada objeto da natureza ou um ser vivo tem impresso em sua forma a arte em sua mais pura essência", diz.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/02/120207_duran_galeria_mm.shtml