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terça-feira

Arborize seu pasto!


Valorização de nativas - A partir de agora, profissionais das áreas agronômica, zootécnica e florestal, interessados em orientações sobre arborização de pastagens, têm à disposição uma publicação especial com informações técnicas e orientações relacionadas às melhores formas de planejar essas áreas, com equilíbrio e sustentabilidade. Já está disponível o Guia Arbopasto - Manual de identificação e seleção de espécies arbóreas para sistemas silvipastoris, editado pela Embrapa Acre (Rio Branco, AC), Embrapa Rondônia (Porto Velho, RO) e Embrapa Informação Tecnológica (Brasília, DF). A obra é considerada uma importante contribuição no contexto atual, principalmente com a aprovação recente do novo Código Florestal Brasileiro. Resultado de cinco anos de pesquisa, o manual chama a atenção para a necessidade de implantação de espécies nativas em sistemas silvipastoris, até então arborizados com plantas exóticas, estranhas à biodiversidade local. Veja mais em Livraria Embrapa.

quarta-feira

Colombianos criam gado entre árvores e inspiram brasileiros

Um dos destaques de um congresso de restauração florestal realizado em novembro em São Paulo foram os resultados de 26 anos de trabalho em campo de pesquisadores da Colômbia na criação de gado em meio a florestas, o chamado sistema silvipastoril, ainda incipiente no Brasil. É simples: os bois, em vez de abaixarem a cabeça e comerem apenas capim sob o sol forte, se espicham e, à sombra, se fartam de folhas e frutos de arbustos e árvores no meio do pasto. Como resultado, pode-se manter até cinco animais por hectare e produzir de 10 mil a 15 mil litros de leite por ano por hectare sem adubação e quase sem suplementação alimentar, enquanto as pastagens comuns, sem árvores, abrigam um animal por hectare – a média na Amazônia brasileira é ainda menor, de 0,9 animal por hectare – e rendem 400 litros de leite por ano por hectare. Além disso, as árvores preservam as nascentes, protegem o solo da erosão e reduzem bastante as populações de moscas e carrapatos, que transmitem doenças, permitem a diminuição dos gastos com medicamentos veterinários, fertilizantes e pesticidas, além de recuperarem parte da biodiversidade original, perdida com a atividade agropecuária, ao atraírem aves e 
outros animais (veja o infográfico).
Na Colômbia, quase dois mil fazendeiros converteram cerca de 45 mil hectares de pastagem degradada em pastagem arborizada, como resultado de uma colaboração entre a Federação Colombiana de Pecuaristas (Fedegan), o Centro de Pesquisa em Sistemas Sustentáveis de Produção Agropecuária (Cipav), a organização não governamental The Nature Conservancy (TNC) e o Banco Mundial. De modo pioneiro, Enrique Murgueitio Restrepo, diretor do Cipav, começou a cultivar florestas em pastagens depois de convencer os proprietários rurais de que as folhas e os frutos de árvores poderiam ser tão nutritivos para o gado quanto a alfafa e o capim.
Seus argumentos foram bem recebidos porque nessa época os proprietários rurais da Colômbia procuravam uma alternativa para sair de uma crise dos mercados de açúcar e café. À medida que colecionava bons resultados, a equipe do Cipav ampliou o trabalho para fazendas de outros países – Bolívia, Guiana, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala e México – e estabeleceu colaborações com pesquisadores da Universidade Yale, dos Estados Unidos.
A equipe de 40 pesquisadores do Cipav trabalha atualmente para ampliar a área de pastagens arborizadas na Colômbia para mais 45 mil hectares, valendo-se de um financiamento de US$ 7 
milhões do Banco Mundial. Segundo ele, essa será a primeira etapa de um ambicioso plano de conversão de 10 milhões de hectares de pastagens tradicionais, liderado pela Federação Colombiana de Pecuaristas. Na Colômbia, as pastagens ocupam cerca de 40 milhões de hectares “e a média de desmatamento de 2005 a 2010 foi de 285 mil hectares, mais da metade da área para utilização final de pastagens”, diz Murgueitio.
“A grande batalha não é na Colômbia, mas aqui no Brasil”, afirma. Somente no estado do Pará, ele observa, 10 milhões de hectares de pastagens degradadas poderiam ser convertidas em pastagens florestadas de melhor aproveitamento econômico. A seu ver, mantendo quatro animais por hectare – e não apenas um, como na média nacional – em uma área de 100 hectares, com a mesma quantidade de animais, sobrariam 75 hectares para outras atividades. A pecuária extensiva, com uma cabeça de gado em média por hectare, predomina no Brasil. De acordo com o censo agropecuário de 2006, o mais recente, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pecuária ocupa quase metade (48%), o equivalente a 158 milhões de hectares, do total de terras agrícolas do país, enquanto a agricultura cobre 59 milhões de hectares. O rebanho bovino, de 206 milhões de cabeças, é maior que a população, de 190 milhões de pessoas.
“Já temos bastante informação para espalhar essa técnica no Brasil”, diz Ricardo Rodrigues, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP). “As pastagens degradadas poderiam ser revertidas em pastagens florestadas, com benefício ambiental e também econômico, principalmente as pastagens degradadas em áreas agrícolas de baixa aptidão, que apresentam grandes riscos para processos erosivos e deslizamentos, como os recentes da região serrana brasileira.” Essa seria uma forma de ampliar a produtividade e ainda evitar a erosão, que em 5, 10 anos degrada o solo de pastos sem árvores.
Em maio e outubro do ano passado, a convite de pesquisadores da Universidade Yale, Rodrigues e Sergius Gandolfi, também da Esalq, estiveram na Colômbia e visitaram as fazendas cujos proprietários se renderam aos argumentos de Murgueitio. Acostumados a ver pastagens no Brasil, os dois se encantaram ao ver o gado bem nutrido no meio do mato e se alimentando de uma espécie de árvore considerada invasora no Brasil, a leucena (Leucaena leucocephala). Também não esperavam ver cercas vivas, formadas por árvores, e não por mourões como no Brasil. “A vantagem da cerca viva é que não tem de reformar nem apodrecem como os mourões”, diz Gandolfi. “E pode ser uma fonte de renda, já que os produtores podem podar os galhos e vender a madeira para carvão.” As árvores reduzem a temperatura em dois, três graus, criando espaços agradáveis para os animais.
Em 2009, entrevistando produtores rurais da região de Quindío, Colômbia, Alicia Calle e Florencia Montagnin, da Escola de Estudos Ambientais e Florestais da Yale, e Andrés Felipe Zuluag, do Cipav, verificaram que a gliricídia (Gliricidia sepium) era a árvore preferida para formação das cercas porque cresce rapidamente e fornece sombra para o gado. Os pesquisadores viram que mudas de árvore dessa espécie tinham sido plantadas recentemente ao longo de cinco quilômetros do perímetro das pastagens das fazendas visitadas. 

Avanços e resistências
Vários estudos feitos no Brasil nos últimos anos, principalmente pelos pesquisadores da Embrapa, indicam as vantagens das pastagens arborizadas, em comparação com as convencionais: a falta de sombra, por exemplo, pode reduzir em até 20% a produção de vacas leiteiras. Em um levantamento nacional, Jorge Ribaski, da Embrapa Florestas, sediada em Colombo, Paraná, registrou um avanço das pastagens arborizadas, adotadas em geral em áreas com solos mais suscetíveis à erosão. No noroeste do Paraná a motivação dos 200 produtores rurais que deixaram as árvores crescer em cerca de sete mil hectares era ter alimento para o gado no inverno, quando as pastagens comuns podem escassear.
O ganho de peso tem sido fácil de demonstrar. Ribaski verificou que os animais jovens podem chegar a 450 quilogramas em 60 meses em pastagens arborizadas na caatinga, na Região Nordeste, enquanto nos métodos tradicionais de criação atingem em média 360 quilogramas em 54 meses. Segundo ele, com base nos resultados dessas pesquisas, a Secretaria de Agricultura de Alegrete, no Rio Grande do Sul, construiu um viveiro com capacidade para produzir 350 mil mudas de árvores para serem distribuídas aos produtores rurais da região, caracterizada pelo avanço incessante de campos arenosos sobre áreas agrícolas.
Também há resistências, já que a adoção de uma tecnologia não depende apenas de argumentos técnicos: os ganhos de biodiversidade e conforto para o gado não são o bastante para convencer os produtores rurais. Moacyr Dias Filho e Joice Ferreira, pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, de Belém, Pará, verificaram que os agricultores que poderiam se beneficiar de sistemas silvipastoris encontram-se em geral em regiões de abundância de áreas naturais para expansão agrícola e, portanto, a motivação para implantar novos métodos é baixa. Além disso, os proprietários rurais se queixam de que os benefícios são de longo prazo, enquanto os custos com cultivo e plantio de mudas e mão de obra especializada são imediatos. Outra barreira é o risco de fogo acidental, que pode queimar tudo o que foi feito – e gasto.
Mesmo assim, já há o que mostrar. Os pesquisadores da Embrapa Sudeste, além de selecionarem as espécies de árvores nativas mais adequadas para o convívio com o gado, estão acompanhando a implantação experimental em fazendas de Brotas, Ibirá, Olímpia, Aspásia, Riolândia e Votuporanga. As experiências na Colômbia, principalmente sobre as melhores técnicas de convencimento dos potenciais usuários, podem ser úteis. “A maioria dos pecuaristas não confia em técnicos nem em cientistas”, diz Murgueitio. “Só aceitam o que outros produtores já aplicaram.”

O pequi e os surfistas
No Brasil, ressalta Rodrigues, áreas de vegetação nativa que devem ser mantidas como reserva legal, correspondente a 20% da área total da propriedade rural na Região Sudeste e a 80% na Região Norte, podem ser utilizadas de forma sustentável para produção econômica. “Poucos proprietários rurais conhecem as possibilidades de uso sustentável das matas mantidas de reserva legal, geralmente vistas como intocáveis”, diz ele. Para demonstrar essa possibilidade, Rodrigues e sua equipe estão acompanhando o plantio de árvores nativas com interesse econômico, a serem cortadas com autorização legal ao longo de 40 anos, com ciclos de 12 anos, em uma área de 300 hectares no município de Campinas.
Em 2011, Ana Cláudia Sant’Anna, da Esalq, comparou a renda obtida com o extrativismo vegetal de pequi (Caryocar brasiliense), uma fruta nativa do cerrado brasileiro muito utilizada na cozinha regional, com a do cultivo de soja na região de Iporá, em Goiás, e Pirapora, em Minas Gerais. A conclusão foi que o extrativismo sustentável de pelo menos 10 árvores de pequi em reservas legais de cerrado pode ser tão – ou mais – lucrativo quanto a produção de soja. Seu trabalho serve de argumento para os produtores rurais deixarem de ver como intocáveis as reservas legais.
“Não há nenhuma incompatibilidade na coexistência do uso da terra para produção e para preservação”, diz Gandolfi no simpósio de restauração florestal em São Paulo. Em uma aula que deu no curso de agronomia da Esalq em 2011, ele contou a história de dois surfistas norte-americanos que vieram curtir o mar do Rio de Janeiro, encantaram-se com o açaí, voltaram à Califórnia e, com outros dois surfistas, criaram uma empresa que vende suco de açaí brasileiro para esportistas nos Estados Unidos. No final, ele perguntou por que os estudantes não faziam como os surfistas e criavam um negócio para ganhar milhões de dólares aproveitando as riquezas das florestas brasileiras.

Artigos científicos
1. CALLE, A. et al. Farmer’s perceptions of silvopastoral system promotion in Quindío, Colombia. Bois et Forêts des Tropiques. 
v. 300, n. 2, p. 79-94. 2009.
2. MURGUEITIO, E. et al. Native trees and shrubs for the productive rehabilitation of tropical cattle ranching lands. Forest Ecology and Management. v. 261, n. 10, p. 1.654-63. 2011.

Fonte: Revista Pesquisa Fapesp Online


segunda-feira

Sistemas silvipastoris

No Brasil, entre os anos de 1970 a 2006, houve um crescimento relativo nas áreas utilizadas com lavouras, florestas e pastagens, da ordem de 126%, 73% e 12%, respectivamente. Durante este mesmo período, o efetivo bovino aumentou em 116%. Quanto ao setor florestal brasileiro, estima-se uma área plantada com florestas de 6,3 milhões de hectares, sendo 66,5% com eucalipto, 26,5% com pinus e 7% com outras espécies. Em 2009, o consumo de madeira em tora foi de 162,6 milhões de metros cúbicos, distribuídos nos segmentos de celulose e papel (37,3%), lenha industrial (25,7%), indústria madeireira (18,8%), carvão (11,9%), painéis reconstituídos (5,8%) e outros (0,5%), sendo a demanda maior que a oferta.

Este panorama, aliado às crescentes demandas por alimentos, madeira e biocombustíveis, e às restrições para abertura de novas áreas de vegetação nativa para a agropecuária e para extração de madeira, são indicativos da tendência do avanço de lavouras e de florestas plantadas sobre áreas com pastagens, principalmente, aquelas em algum estágio de degradação. Nesse sentido, há uma tendência, para os próximos anos, de diminuição de áreas com pastagens cultivadas no Brasil, porém, com ligeiro aumento no rebanho bovino, como consequência da intensificação do uso das pastagens cultivadas remanescentes.

Com isso, nota-se uma preocupação acentuada com a preservação ambiental e a necessidade de uso mais eficiente dos recursos naturais e de insumos, para que as demandas atuais e futuras sejam atendidas e de modo que os sistemas de produção agropecuários possam desempenhar seu papel com benefícios sócio-econômicos e ambientais, trilhando o caminho da sustentabilidade.

O aumento na demanda por carnes vermelhas indica uma oportunidade para exportação do produto brasileiro, entretanto, devendo-se considerar as exigências da comunidade internacional relacionadas à segurança ambiental no processo produtivo da carne, como: bem-estar animal e qualidade da carne, conservação do solo e da água, mitigação da emissão de gases de efeito estufa e sequestro de carbono, e prestação de serviços ambientais em áreas com pastagens, sendo que tais exigências e demandas podem ser atendidas com a inclusão do componente florestal em sistemas pecuários. Neste contexto, atualmente, tem se dado ênfase a sistemas integrados de produção, como a integração lavoura-pecuária e, mais recentemente, a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF).

Sistemas de iLPF ou agrossilvipastoris, são sistemas que envolvem a interação dos componentes florestal, agrícola e pecuário, e caracterizam-se como um tipo de sistema agroflorestal (SAF). Os SAFs têm sido desenvolvidos em todas as regiões do país, com características específicas quanto às espécies utilizadas, ao arranjo temporal e espacial dos componentes e ao objetivo e funcionalidade do sistema. No entanto, geralmente, SAFs são entendidos como sistemas multiespécies, mais complexos e diversificados do que sistemas de iLPF que integram os três componentes nos moldes de uma agricultura mecanizada com rotação de lavouras e pastagens em associação ao sistema plantio direto.

Frente às demandas por crédito para sistemas de iLPF, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou, em seu Plano Agrícola e Pecuário de 2008-2009, o Programa de Produção Sustentável do Agronegócio (Produsa), que tem como uma de suas diretrizes a implantação de sistemas produtivos sustentáveis, priorizando a recuperação de áreas e pastagens degradadas, disponibilizando linha de crédito específica para a implantação e ampliação de sistemas de integração de agricultura, pecuária e silvicultura. O Plano Agrícola e Pecuário de 2010-2011, do Mapa, inclui o novo Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), por meio do qual foram destinados R$ 2 bilhões para financiar práticas adequadas, tecnologias adaptadas e sistemas produtivos eficientes que contribuam para a mitigação da emissão dos gases de efeito estufa, como os sistemas de iLPF.

Na conjuntura atual, de demandas crescentes e estímulos governamentais, ampliam-se as possibilidades de uso de sistemas de iLPF para recuperação e intensificação do uso de pastagens no Brasil. Entretanto, devido à maior complexidade e de necessidades operacionais específicas desses sistemas, é essencial o conhecimento prévio das condições do mercado local e regional quanto à disponibilidade de insumos, maquinário, mão-de-obra, serviços e condições de comercialização dos produtos, especialmente, aqueles relacionados ao componente florestal, além das condições de infra-estrutura do sistema de produção. A partir daí, deve-se procurar por assistência técnica para realizar o planejamento das atividades.

Escolha do componente arbóreo
Na escolha da espécie arbórea a ser implantada em um sistema de iLPF com ênfase na pecuária, além de se considerar sua adaptação às condições locais de clima e solo, deve-se optar por aquelas que apresentem crescimento rápido, de modo que entre um a dois anos do plantio, as árvores tenham atingido diâmetro do tronco suficiente para que sejam minimizados possíveis danos mecânicos causados por animais em pastejo. Práticas de desrama podem ser utilizadas na condução das árvores, para minimizar os danos pelo gado; outra estratégia é utilizar animais de categorias menores, como de recria, na fase inicial de crescimento das árvores.
Outros aspectos para escolha da espécie florestal são: práticas silviculturais conhecidas; disponibilidade de sementes e mudas; espécies de leguminosas, que fixam nitrogênio atmosférico e que apresentem potencial forrageiro; e espécies que não sejam tóxicas ao gado.
Dentre as espécies florestais mais utilizadas em pastagens no Brasil, destacam-se: eucaliptos (Eucalyptus spp. e Corymbia spp.), grevílea (Grevillea robusta), pinus (Pinus spp.), teca (Tectona grandis), paricá (Schyzolobium amazonicum), mogno africano (Kaya ivorensis), cedro australiano (Toona ciliata), canafístula (Pelthophorum dubium) e acácia mangium (Acacia mangium).
Árvores de crescimento lento (menos de dois metros de altura por ano), como algumas espécies nativas, também podem ser utilizadas, quando o produto/serviço escolhido compensar o custo de proteção contra danos que o gado pode produzir nas árvores. Esta é uma limitação para sistemas silvipastoris, entretanto, para sistemas agrossilvipastoris (iLPF), pode-se cultivar lavouras nas entrelinhas das árvores, durante o período necessário para desenvolvimento das mesmas, antes da implantação do pasto e da entrada de animais em pastejo.
Em sistemas de iLPF onde a atividade principal é a pecuária, a escolha pelo componente florestal deve considerar espécies para múltiplos usos, que proporcionem madeira de qualidade para diferentes segmentos e permitindo a entrada de várias receitas durante seu ciclo produtivo. Neste caso, destacam-se as espécies e híbridos de eucalipto, por apresentarem boa adaptação às condições edafoclimáticas do Brasil, crescimento rápido com fuste alto e copa não muito densa, e madeira com características desejáveis para os segmentos de celulose e moveleiro. Práticas de desbaste seletivo ou sistemático podem ser utilizadas na condução das árvores, para obtenção de receitas a partir dos 4-5 anos da implantação do sistema.
Para condições tropicais e subtropicais, a espécie de eucalipto mais utilizada é Eucalyptus grandis, além de seus híbridos, principalmente, com E. urophylla, formando E. urograndis. Os híbridos apresentam maior produtividade, entretanto, não são indicados para regiões com mais de cinco meses de período seco. Quanto à qualidade da madeira, destaca-se o eucalipto citriodora (Corymbia citriodora), que também pode ser utilizado para produção de óleo essencial (citronela), entretanto, com taxa de crescimento inferior a E. grandis e E. urograndis, necessitando de maior período de tempo para entrada de animais em pastejo. Quanto ao tipo de solo, deve-se evitar locais com problemas de má drenagem.

Orientação e espaçamento das árvores
Na orientação das linhas de plantio das árvores deve-se considerar, primeiramente, a conservação do solo e da água. Assim, as árvores devem ser dispostas em nível e, no caso da necessidade de terraços, o plantio das árvores deve ser feito no terço inferior do terraço, para evitar danos às raízes das árvores, favorecer a infiltração de água, a conservação e manutenção do terraço e o deslocamento dos animais. Para terrenos planos, as linhas de árvores devem ser orientadas no sentido leste-oeste.
Espaçamentos mais amplos favorecem o desenvolvimento da forrageira no estrato inferior e a produção de madeira com maiores dimensões, além de permitir o consórcio com culturas agrícolas por maior período e com menores limitações em termos de competição por espaço, luz, água e nutrientes. Do ponto de vista da pecuária, espaçamentos entre fileiras ou renques de árvores podem variar de 10 a 50 m, sendo que espaçamentos menores limitam a produção forrageira e animal. O espaçamento entre árvores, na linha, pode variar de 1,5 a 5 m.
Quanto aos arranjos das árvores, podem variar de linhas simples, duplas ou triplas, de acordo com a finalidade da madeira, e podem ser associados a práticas de desbaste seletivo ou sistemático, para produzir madeira com maior espessura e maior valor agregado. Em sistemas de iLPF com finalidade na pecuária, a implantação de linhas simples facilita no manejo das árvores, exigindo menos mão-de-obra. Arranjos mais complexos exigem mais desbastes e são indicados para sistemas com finalidade predominantemente florestal.

Implantação do componente arbóreo
Para implantação do componente arbóreo, deve-se atentar para o devido controle de formigas e cupins na área a ser utilizada e nas adjacências, antes do início do preparo do solo.
Em caso de solos compactados, deve-se realizar a descompactação na linha ou faixa de plantio das mudas. A correção do solo, com calcário e com gesso é importante para favorecer o desenvolvimento do sistema radicular das mudas. A adubação pode ser feita na linha de plantio, de acordo com o tipo de solo e a espécie florestal. Em caso de uso das entrelinhas para cultivo de lavouras, a adubação desta área deve ser feita de acordo com a exigência da mesma.
Antes do plantio, as mudas devem ser tratadas com cupinicida e fungicida, para favorecer o estabelecimento. O plantio pode ser feio antes ou após a implantação da lavoura, de acordo com o espaçamento pré-determinado. No caso de plantios realizados fora da estação chuvosa, há necessidade de irrigação das mudas e/ou uso de polímeros para retenção de umidade (gel).
Mortalidade de mudas acima de 5% requer replantio, sendo que, em sistemas pecuários, pela dificuldade de mão-de-obra especializada em manejo florestal, as perdas podem chegar a 20%. Em regiões com empreendimentos florestais, pode-se contar com a terceirização do serviço, dependendo da viabilidade econômica.
Pelo menos durante os seis primeiros meses do plantio, em faixa de 1m para cada lado da linha de plantio, deve-se controlar as plantas competidoras ao redor das mudas, para favorecer o desenvolvimento das árvores.

Manejo do componente arbóreo: desrama e desbaste
A desrama ou poda, é uma prática importante, a ser realizada antes dos animais entrarem no sistema. Serve para retirada dos galhos laterais que podem ser danificados pelos animais, causando injúria às árvores e comprometendo a produção de madeira de melhor qualidade. Também, serve para aumentar a disponibilidade de luz para o componente forrageiro que ocupa o estrato inferior. A primeira desrama deve ser realizada quando o diâmetro do tronco à altura de 1,30 m (diâmetro à altura do peito, DAP) atingir 6 cm, sendo cortados os ramos até 2 m de altura. No caso do eucalipto para produção de madeira para serraria, com corte aos 12-14 anos, geralmente, as outras desramas são realizadas aos 2-3 anos e aos 3-4 anos, com o corte dos ramos a cada 2 m em cada desrama, até chegar aos 6 m, após as três desramas. A desrama deve ser realizada rente ao tronco, com equipamento adequado (serrote ou tesoura), para evitar tocos que comprometem a qualidade da madeira.
O desbaste consiste na retirada (corte) seletiva de árvores do sistema, com a finalidade de: fonte de receita, aumento na disponibilidade de luz para o componente forrageiro e/ou agrícola, melhoria das condições de crescimento das árvores para produção de madeira de melhor qualidade e valor agregado. Geralmente, os desbastes são orientados para manter um estande final com 30 a 50% das árvores implantadas.
Nas regiões de Cerrado, em sistemas de iLPF, o eucalipto pode sofrer desbastes sucessivos, de acordo com a finalidade da madeira: aos 4-5 anos, para carvão, lenha e moirões e aos 8-9 anos, para celulose e para postes, sendo realizado o corte final das árvores aos 12-14 anos, para serraria e laminação, seguindo-se um novo ciclo de plantio das árvores. Também, pode-se optar por apenas um desbaste, deixando-se entre 100 a 200 árvores/ha para o corte final, sendo a madeira comercializada para serraria.
Na colheita das árvores, devem-se seguir procedimentos técnicos para derrubada da árvore, arraste da tora, traçamento da tora, carregamento das toras e transporte da madeira, de acordo com o mercado comprador da madeira, da mão-de-obra e maquinário disponíveis. Dependendo da região, esse serviço pode ser terceirizado.

Benefícios Econômicos
Sistemas de iLPF permitem diversificação da renda, por meio do fornecimento de produtos agrícolas, florestais e pecuários, apresentando maior flexibilidade frente a externalidades. O planejamento e escalonamento desses produtos permitem aumentar a entrada de receitas e devido à maior eficiência de uso dos recursos naturais, de insumos, de maquinário e de mão-de-obra, apresentam melhores taxas internas de retorno do investimento, superando a renda líquida obtida nos sistemas componentes monoespecíficos.
As culturas anuais são utilizadas em sistemas de iLPF para amortizar os custos de implantação e melhorar as condições de fertilidade do solo com as adubações. Podem ser cultivadas por mais de uma safra, permitindo o desenvolvimento das árvores até a entrada dos animais em pastejo, eliminando-se os custos para proteção das mesmas. Além disso, com a adoção do plantio direto em sistemas de iLPF, os custos de implantação podem ser reduzidos em 10 a 25%.
Nesses sistemas, os custos para implantação e condução de mudas de eucalipto por um período de um ano, considerando-se as despesas com as mudas, insumos, mão-de-obra e maquinário, é de cerca de R$ 2,00/muda.
Em sistemas de iLPF com eucalipto e uma safra de milho, os recursos gerados são capazes de amortizar os custos de implantação em cerca de 40 a 45%, antes da entrada dos animais. Quando é realizada a semeadura simultânea do milho com capim, em sistema Santa Fé, gasta-se menos dinheiro com o estabelecimento do pasto e antecipa-se a entrada de animais na área em pelo menos 50 dias.
Dentre os principais capins utilizados em sistemas de iLPF, destacam-se: Brachiaria decumbens, Brachiaria brizantha (Marandu, Piatã e Xaraés) e Panicum spp. (Tanzânia, Mombaça e Massai). O sombreamento promove melhorias no valor nutritivo dos capins e no bem-estar animal, possibilitando maiores rendimentos por animal.
Sistemas de iLPF com 250 a 350 árvores de eucalipto/ha proporcionam maior ganho em diâmetro das árvores quando comparados a sistemas florestais exclusivos, com 1.666 árvores/ha. Desta forma, aos sete a oito anos da implantação, pode-se colher madeira para postes de eletrificação e, aos 10-12 anos, toras com mais de 30 cm de diâmetro, para serraria. Estes produtos apresentam maior valor agregado e podem atingir até seis vezes o valor da madeira para energia (carvão). Esses sistemas apresentam produtividade média de 25 m3/ha/ano, com possibilidade de comercialização da madeira como toras, postes, lenha, escoras para construção civil e estacas.
Em projeto em andamento na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande-MS, foram implantados dois sistemas de iLPF, como estratégia de recuperação de pastagem. Em setembro de 2008, a área foi preparada para semeadura convencional da soja, deixando-se espaços para o plantio de mudas de eucalipto. Utilizou-se o híbrido H-13 (Eucalyptus urograndis), que foi implantado em janeiro de 2009, em densidades de 227 árvores/ha (sistema 1: espaçamento de 22 m entre fileiras de árvores e de 2 m ente árvores) e de 357 árvores/ha (sistema 2: espaçamento de 14 m entre fileiras de árvores e de 2 m ente árvores). Após a colheita da soja, foi semeado o capim-piatã (Brachiaria brizantha cv. BRS Piatã), em abril de 2009. Em outubro de 2009, foi realizado corte do capim para fenação. Nos sistemas 1 e 2, o custo de implantação com insumos e serviços foi de R$ 2.074,00 e R$ 2.218,00, respectivamente. Com a comercialização da soja (média de 2.100 kg/ha) e de uma colheita de forragem para feno (média de 4.000 kg/ha), obteve-se amortização dos custos de 85% e 79%, respectivamente. Se fosse cultivada uma nova safra ou mesmo uma safrinha, provavelmente, os custos dos sistemas de iLPF teriam sido amortizados aos 15 meses após o plantio do eucalipto, podendo-se introduzir os animais em pastagem de alta qualidade. Estes dados demonstram que os custos de implantação de sistemas de iLPF não chegam a ser limitantes, num contexto de pecuária, onde os custos com cercas, bebedouros e aquisição de animais não são considerados. As perspectivas de receitas somente com o componente florestal, considerando o corte de 50%, 25% e 25% das árvores aos 7, 10 e 12 anos, para as finalidades de lenha/carvão, escoras/palanques e madeira, respectivamente, para os sistemas 1 e 2, seriam de R$ 4.930,00 e R$ 7.744,00.
Além das receitas provenientes da comercialização dos produtos, sistemas de iLPF apresentam grande potencial para fornecimento de serviços ambientais e com essa perspectiva de retorno econômico adicional, aumenta-se a possibilidade de adoção desses sistemas. O componente florestal também contribui para a beleza cênica da paisagem rural, possibilitando agregar maior valor à terra e o desenvolvimento do turismo rural, como fonte de receitas extras.
Fonte: DBO - link


CENTRO PARANAENSE DE REFERÊNCIA EM AGROECOLOGIA
CPRA/SEAB-PR

REFERÊNCIAS AGROECOLÓGICAS

PASTOREIO RACIONAL VOISIN

Núcleo de Pastoreio Racional Voisin - UFSC

Criação de gado de leite no Sistema Voisin.


http://www.cpra.pr.gov.br/arquivos/File/CartilhaPRV.pdf

Arborizar pastagens garante bem-estar animal, aumenta a biodiversidade, recicla nutrientes do solo e pode dar renda extra

FERNANDA YONEYA - Estadão.com.br

De olho no bem-estar animal e nas vantagens ambientais proporcionadas pelo plantio de árvores, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), que reúne 18 mil associados, prepara uma campanha para estimular a arborização de pastos. A ideia, segundo o superintendente de Marketing da ABCZ, João Gilberto Bento, é "fazer a cabeça" dos criadores sobre os benefícios que a prática traz para a pecuária. "As árvores garantem conforto térmico, o que pode interferir positivamente na produtividade do gado. Além disso, a árvore melhora as condições do solo, pois promove a ciclagem de nutrientes", diz. "Se o produtor criar esse ambiente favorável no pasto, reduz o stress dos animais."

Bosque. Um dos argumentos da campanha é que a pecuária é uma das atividades que mais podem contribuir com a preservação de florestas. "A pecuária pode transformar o Brasil em um grande bosque." E o pecuarista favorece o retorno da biodiversidade. "As árvores atraem pássaros, aliados no combate à cigarrinha-das-pastagens." Para ele, a adesão à campanha é uma maneira de a pecuária se livrar da fama de atividade desmatadora. "Queremos iniciar um movimento", diz Bento, adiantando o possível slogan: "Ponha o seu boi na sombra."

Considerado um pecuarista modelo na arborização de pastagens, o produtor José Luiz Niemeyer dos Santos, de Guararapes (SP), diz que o investimento é grande e, por isso, deve ser planejado. "Não é só plantar árvores. Tem que seguir um projeto, comprar mudas, cercar a área, definir as espécies, acertar o manejo, ter assistência técnica." Se por um lado não há retorno financeiro para um investimento alto, por outro é compensador, diz. "A sombra dá conforto para o gado, embeleza a paisagem e melhora a biodiversidade", diz Niemeyer.

Com 2 mil hectares de pasto e rebanho de 4 mil a 5 mil cabeças (entre matrizes e gado de cria, recria e engorda), Niemeyer "enriquece" o pasto com árvores há mais de 20 anos. "É empírico, mas já notei que esses pequenos bosques criam uma área de sombra que os animais gostam. Além disso, essas árvores, se plantadas beirando a mata, ajudam a preservá-la." Nesses anos, aprendeu que o plantio de árvores pode ser feito na época de reforma de pasto. "Quem reforma o pasto e cultiva lavoura em sistema de rotação pode aproveitar para também plantar as árvores." Hoje, o plantio chega a 20 mil árvores por ano, de mais de 50 espécies, fora a regeneração espontânea, defendida por ele.

Na reforma. Adepto da causa, o pecuarista Jovelino Carvalho Mineiro, com fazendas em Rancharia (SP) e Uberaba (MG), planta árvores em pastagem há 25 anos. O plantio é feito com a reforma de pasto, a cada quatro anos, ocasião em que ele cultiva sorgo e amendoim. "Os ruminantes precisam de sombra. A questão é que o zebu é tão eficiente que produz bem mesmo sob intenso stress térmico. Se o pasto for sombreado, essa produtividade pode aumentar 30%, 35%", estima o produtor, que planta, em Uberaba, 300 árvores nativas por ano em áreas de pasto, há dez anos. "Hoje são 4.600 árvores de 90 espécies." Em Rancharia, diz, o plantio de eucalipto se presta, além do conforto animal, para o uso da madeira, aproveitada na própria fazenda. "Nunca precisei comprar madeira, o que até ajuda a tirar a pressão sobre as árvores nativas", diz.

O produtor Cláudio Sabino Carvalho, de Uberaba (MG), planta eucalipto e outras espécies com o objetivo de "dar conforto aos animais e deixar o ambiente saudável e bonito". Com mil bovinos e 400 hectares de pasto, Carvalho pôs em prática o que aprendeu desde que começou a investir em arborização de pastagens, há dez anos. "Já plantei 5 mil árvores, a maioria nativas." O investimento em arborização é de R$ 20 mil a R$ 30 mil por ano. Ele diz que a área sombreada do pasto é chamada de 'área de lazer", por proporcionar conforto aos animais. "É uma área de 1 hectare com espécies frutíferas e ornamentais, e cochos de água e sal mineral. O gado come e descansa no  no 'ar-condicionado'."